Em crianças e adolescentes, o córtex pré-frontal - parte anterior do lobo frontal do cérebro, responsável pela modulação dos comportamentos sociais - está ainda em processo de formação. Por isso, ainda não conseguem sustentar por muito tempo a concentração em sala de aula. Para compensar essa defasagem, a Educação de gente pequena precisa fazer uso intensivo de incentivos motivacionais.
Para aprimorar a alocação de incentivos motivacionais na Educação Infantil, é preciso saber distinguir entre incentivos e motivação. Os incentivos, variável central das correntes behavioristas da Psicologia, configuram estímulos externos a determinados comportamentos. Já a motivação, unidade inerente a teorias contemporâneas de gestão de pessoas, é um sistema de estímulos a certos comportamentos já internalizado. Designamos incentivos motivacionais as ações estratégicas que promovem a motivação (estimulo interno) por meio da alocação adequada de incentivos (estimulo externo).
Todo comportamento humano, positivo ou negativo, é determinado por incentivos. Quando o sociólogo francês Émile Durkheim (158-1917) afirmou que o crime é um fato social normal, no sentido de que existe em qualquer sociedade, quis dizer que há em todos formação humana incentivos os comportamentos inibidos pela legislação penal, que não mais é que um sistema articulado de contraincentivos. Se uma criança é indisciplinada em sala de aula, pode-se concluir que na percepção dela os incentivos a um comportamento adequado nesse espaço são superados por incentivos concorrentes.
A Educação é em grande medida, portanto, um programa de introjeção de comportamentos socialmente adequados, mediante a alocação de incentivos, sobretudo, incentivos motivacionais. Os incentivos motivacionais operam em camadas mais profundas do consciente e até mesmo no inconsciente, para ajustar a atitude da criança ao sistema ético da sociedade, sem lhe constranger a sua liberdade individual. Montesquieu (1690-1755) ensinou que a liberdade não é fazer aquilo que se quer, mas aquilo que se deve querer. Desse modo, a autonomia da criança é conquista a partir da luta contra os constrangimentos externos, mas também a partir da luta contra incentivos internos, especialmente os impulsos negativos e as motivações deletérias, como o preconceito e a baixa estima.
Como, portanto, trabalhar incentivos motivacionais na Educação Infantil? Aqui vão algumas dicas:
1. Elogie em público e critique em particular. Certa vez, perguntei a aluna no curso de Doutorado porque ela não participava das aulas. A resposta foi surpreendente: "Uma vez fui dar opinião, e o professor me escrachou diante dos colegas. Agora, prefiro ficar na minha." Realmente, uma censura em público pode machucar e calar um aluno para sempre. Se você tem uma devolutiva crítica para uma criança, melhor tratar com ela reservadamente.
Por outro lado, um elogio sincero pode fazer aflorar e se realizar o potencial de uma pessoa. Elogie sempre! As palavras de reconhecimento são poderosos incentivos motivacionais. Se você deixa de dar um feedback positivo a uma criança, ela pode entender o seu silêncio como reprovação.
2. Capacite as crianças a lidar com as críticas. Certa vez o bilionário cofundador da Microsoft, em palestra para alunos de uma escola americana, disse o seguinte: “A vida não é justa. Acostumem-se com isso.” Realmente, a sociedade é um ambiente por vezes hostil. Nem sempre a pessoa receberá o devido reconhecimento. Por vezes, terá que ouvir críticas severas e injustas. A criança precisa ser preparada desde cedo para lidar com isso.
Além disso, é fundamental ensinar aos pequenos que a crítica não é algo necessariamente ruim. A palavra crítica, do grego κριτική, significa "expôr os fundamentos de". Criticar, na Filosofia, é compreender as causas últimas das coisas. A crítica é a base do pensamento. No Brasil, a palavra "crítica" e o que se expressa por essa palavra assumiram uma conotação muito pejorativa. Assimilar as críticas bem fundamentadas é essencial ao pleno desenvolvimento da personalidade.
3. Evite comparações. É muito comum os pais e os professores compararem respectivamente os filhos e os alunos. A comparação é instrumento de discriminação, com o potencial de aniquilar a autoestima de uma pessoa. Uma odiosa injustiça é a comparação das pessoas, porque não se leva em conta as particularidades de cada um e de seus contextos.
Quando for elogiar uma criança em pública, escolha bem as palavras para não parecer que está a fazer críticas subliminares às demais. Quando for criticar um aluno, evite citar outro como modelo. A comparação produz no mais das vezes a desmotivação, que pode inviabilizar o aprendizado e até mesmo o projeto de vida de uma pessoa.
4. Não utilize incentivos materialistas. O Materialismo, corrente filosófica de Karl Marx (1818-1883), destaca criticamente o papel dos incentivos materiais como princípios organizadores da sociedade.
A Educação precisa articular incentivos e motivações que extrapolem a lógica utilitária, que descreve o ser humano como alguém cujo comportamento é determinado pela busca de vantagens no mais das vezes materiais. O comportamento ideal dos cidadãos orienta-se por critérios éticos e altruístas que maximizam, ao mesmo tempo, a liberdade de cada um e o bem-estar de todos.
Em vez de distribuir coisas com sinal de reconhecimento, os professores podem distribuir sorrisos, abraços, empatia e atenção. O envolvimento pessoal, afetivo e direto com a criança é um critério de retribuição mais valioso do que os incentivos materiais.
5. Por último e não menos importante. contextualize a prática docente de modo a fazer sentido para a criança.
Muitas vezes, a falta de motivação da criança não é um problema dela, mas da nossa prática docente. Não é incomum que após certo tempo o professor comece a perder a motivação do início da carreira. Em vez de planejar aulas mais contextualizadas, copia de anos anteriores ou de manuais já anacrônicos. A aula começa a se distanciar da realidade dos alunos e se torna desinteressante.
É preciso estar atento para introduzir atividades que façam sentido para as crianças, que tenham conexão com a realidade e o dia-a-dia delas. As crianças são muito dinâmicas e criativas. As nossas aulas também precisam ser. No lugar de atividades previsíveis, valha-se daquelas que suscitem a curiosidade e todo o espectro de sentido dos pequenos. Experimente até mesmo desenvolver dinâmicas fora da sala de aula. Se a sua prática docente for realmente boa, ela vai motivar não apenas as crianças, como você mesm@.